segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Mais do mesmo


 Não me cabe na cabeça que haja alguém satisfeito com o que se está a passar no meu país. Estávamos todos cá, antes do dia 15, mas nesse dia, todos vimos que despertar quem não está é possível. Muitos estivemos na rua em protesto, uns de cabeça mais perdida do que outros. Conheço gente que nunca esteve tão bem financeiramente e que estava lá também. Já não é verdade que só reclamamos quando nos vão ao bolso, já há consciência política e solidariedade e uma vontade de nação. A coisa cresce, finalmente, Abril chegou à vida adulta.
Não é preciso ser-se um génio para tirar conclusões sobre a insatisfação geral. Os génios fazem falta, isso sim, para nos tirar da situação em que nos encontramos. Levou-nos muito tempo para percebermos o que representa a representatividade política e não sabemos em quem confiar, mas sabemos já bastante bem em quem não se pode confiar.
 A vontade com que muita gente se julga salvar numa economia paralela não é apenas o exercício do “salve-se quem puder” é, isso sim, a prova de um profundo descrédito nas instituições. Ou alguém acredita que são apenas os bandidos, os facínoras, os políticos corruptos, os criminosos e os Xicos espertos que a fomentam? Pois digo-vos que há nisto muita gente honesta e que já todos os conceitos valem o seu oposto. E que tudo isto é desolador.
 Num cenário (pouco provável em meu torpe entender) de dissolução de parlamento e convocação de eleições antecipadas, será este Abril adulto digno da sua maturidade? Será capaz de, finalmente, saber fazer-se representar com dignidade e coerência? Ou irá continuar a lançar votos “seguros”, escondendo-se cobardemente atrás da esgotadíssima alternância democrática?
Há muito que deixei de acreditar. Há muito que o meu voto é branco. Se me voltarem a chamar, eu vou, mas, como nas últimas vezes, vou sem fé. Talvez só mais consciente do que aqueles que escolhem mais do mesmo.