segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A espessura dos 40

Até já há o que contar, até já há o que esquecer, até já há o que                                                                                                   [lembrar].
Até já se foi palavra-corpo, palavra-bala, palavra-escudo
Brilho, sonho, astúcia, estupidez … Tudo!
E leram-se livros, ouviram-se discos, fizeram-se ícones e os melhores amigos!
Até já se foi cão, até já se foi cabra, sim, até já se foi bicho, até já se                                                                                           [foi bicha].
Até já se foi pai, até já se foi mãe, até já se foi filho e neto.
Até já se foi casa, grandes alicerces
Até já se foi chão, até já se foi tecto.
Até já se tem rugas, cãs e maleitas. Tem-se um ror de coisas feitas!
Aos 40 a gente aguenta
Mas até já se ganhou, até já se perdeu, até já se sofreu,
Até já se morreu.

E volta-se ao centro, como num jogo de bola
E vai e vira e gira e volta,
Roleta russa, sem revólver, com pistola

Ainda há o que contar, ainda há o que esquecer, ainda há o que                                                                                                   [lembrar]
Ainda há espessura, lustro, inteligência, bastante estupidez
                                                                 [que se chama insensatez]
Ainda há livros para ler, autores para citar - até já se pode escrever!
Ainda se é animal, lobo ou loba - essa espécie fatal!
Ainda se é pai e mãe e filho, vislumbram-se netos e um andarilho
Ainda há coisas feias, pedras nas mãos e telhados de vidro.
Ainda vêm mais rugas, cãs e maleitas, (quem sabe) carinho...
E tudo juntinho, contas bem-feitas:
Aos 40 há gente que assenta
Mas ainda há que ganhar, ainda há que perder, ainda há que sofrer,
Ainda há que viver…


Até já!