segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Não sei o que o amanhã trará - um passeio sonoro na Lisboa de Fernando Pessoa




Meus queridos,

A Sofia Saldanha, dedicou 3 anos da sua vida a compor este trabalho memorável. Envio-vos as 15 faixas de muitas histórias sobre o poeta Fernando Pessoa, como nunca o (ou)viram!
Tenho o prazer de ser amiga da Sofia e de ter colaborado qb na composição deste produto, que considero genial: quando o talento se associa ao (muito) trabalho, o mundo avança bem, avança melhor. E como diria a Sofia: "todo este amor me será devolvido, todo".

Devolvam amor!

Podem ouvir TUDO aqui:


domingo, 12 de novembro de 2017

Última ceia

Tinha diante de mim o tempo passado
Uma conversa incerta
Um certo assunto sempre adiado
E numa girandola de frases prolixas
Guardo o olhar com que me fixas.

Tinha diante de mim um poeta frustrado
O pensamento exangue
(ou apenas cansado)
Varrendo do rosto o suor de uma estância
Encerrando num verso a memória de infância.

Tinha diante de mim a última ceia
Estendida a métrica na mesa comprida
Os versos presos em copos sem vida
E o vinho solto, sem tema ou ideia

Cá estava talhando a melopeia.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Fado da Esposa Solteira

Tu
Que chegas sempre tarde
Tu
Que ages sem amor por mim
Olha
 Paciência também arde
E
Como a paixão 
Também tem fim.

Disse um dia isto ao jantar
Ela, que fala sem pensar
Disse-lhe, então:
- Como quiseres
Pois, a fleuma - sei-o bem! -
É virtude de outras mulheres.
E agora pensa o que quiseres
Que sou machão e insensível
Ou petulante e irascível.

Leva a tua pressa para a rua
Lava e passa a roupa que é tua
Leva a graxa p´rós sapatos
Lava as mãos como Pilatos
Leva sabido e bem gravado:
Podes chorar e estrebuchar
Podes vir cantar o fado
Que eu não volto a ser tua

Assim falou aquela que mais amo
Limpas as mãos em branco pano
Feitas as contas ano a ano
Fechada a porta e a fechadura
Sem complacência ou mesura
Sem um abraço pelos danos
Sem uma gota de ternura.

E foi assim desta maneira
Que a minha esposa ficou solteira.